Manguezais e vegetações da costa latino-americana respondem por até 13% do “carbono azul” do planeta, aponta estudo

O segredo para enfrentar o aquecimento global pode estar na preservação de manguezais e outras vegetações da costa atlântica da América Latina. Um levantamento inédito indica que essa região é responsável por até 13% das taxas de acúmulo de carbono orgânico retirado da atmosfera por ecossistemas costeiros em todo o planeta. O estudo revela que o Sul Global, antes pouco considerado, é na verdade uma enorme reserva do chamado “carbono azul”. Esse elemento é fundamental para o equilíbrio do clima e aumenta o valor da região no mercado mundial de créditos de carbono.
 
“A gente chama de carbono azul esse carbono que fica acumulado em ecossistemas vegetados. Uma parte desse carbono fica retido nas plantas em si, e outra parcela no solo”, explica Vanessa Hatje, do Instituto de Química e do Centro Interdisciplinar de Energia e Ambiente (Cienam) da UFBA. “Esses ambientes acumulam o carbono e, junto com ele, outros tipos de contaminantes, como o CO2, mercúrio, chumbo, zinco”, explica a pesquisadora, autora principal do artigo publicado no periódico Communications Earth and Environment, do grupo Nature, que deu origem a uma reportagem da TV UFBA para o quadro Cientistas do Brasil, da TV Brasil.
 
Essa rede internacional de pesquisadores de países como Austrália, Suécia, Nigéria, Reino Unido, Espanha e Estados Unidos – além de universidades brasileiras, como UFRGS, UFJF e UERJ – reuniu dados de todas as pesquisas científicas já produzidas sobre a faixa costeira da região. A equipe também começou a ir a campo, para coletar dados sobre as partes da costa ainda não estudadas, um trabalho que deve levar até cinco anos.
 
A região do oeste do Atlântico Sul estoca 0,4 petagrama de carbono, o que representa entre 2 e 5% do total de carbono estocado globalmente, um volume bastante considerável. Desse total, entre 80 e 90% fica retida nos manguezais, e o Brasil acumula 95% dos estoques. Então, nós somos detentores, digamos assim, de um estoque de carbono muito grande associado aos solos de manguezais.
 
O grupo liderado pela professora Vanessa Hatje coletou amostras de solo e vegetação em Siribinha, no litoral norte baiano, e agora parte para a baía de Camamu, no sul do estado. As análises determinam as propriedades biogeoquímicas do solo, e também a quantidade e a velocidade de acumulação de carbono orgânico em cada área.
 
As análises de granulometria e dos isótopos desse carbono e nitrogênio são feitas na UFBA. Já as análises de chumbo 210, um isótopo radioativo – que, por conta de seu decaimento, permite determinar a idade de cada uma das amostras e determinar a história de sedimentação e de acumulação de carbono ao longo do tempo – são realizadas fora do país. “A gente usa nossa rede de colaboração, tanto no Brasil como no exterior, para cobrir um leque enorme de análises, pra tentar contar a história não apenas do acúmulo do carbono, mas tentar explicar realmente quais são os processos biogeoquímicos que estão acontecendo ali naquele ambiente”, explica Hatje.
 
O desmatamento, o despejo de esgotos e a criação de camarões em escala industrial em áreas de manguezal ameaçam esses ecossistemas. Para a pesquisadora, a comprovação da importância dos manguezais para o equilíbrio do clima reforça a necessidade de investir na ciência feita pelas Universidades, e também a obrigação de preservar os ecossistemas costeiros e suas comunidades.
 
“Atualmente no Brasil existem algumas iniciativas de reflorestar manguezais, e algumas delas têm dado frutos bastante evidentes já, num período bastante pequeno de tempo. Em termos de carbono, a gente viu que, num período de 12 a 20 anos a gente já tem um acúmulo bastante importante, em termos de carbono. Então, é um ambiente que precisa ser olhado com bastante cuidado do ponto de vista de preservação”, conclui a pesquisadora.
 
*Fonte: Edgar Digital
Data de Postagem: 
terça-feira, 7 Novembro, 2023